terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Conhecendo mais o texto dramático


Confira abaixo o exemplo de um texto dramático.
Repare a importância das rubricas e a presença predominante da estrutura dialógica.
E claro, não deixe de prestar atenção na história! Divirta-se!


AMÉLIA Senhor conde, o café.
CONDE Já são oito horas? (E recebe a chávena.)
AMÉLIA Há também uma carta. (Dá-lha.)
CONDE (Bebe o café. Depois põe os óculos e começa a ler a carta.) A caligrafia é do Celestino. Vejamos, vejamos.
Gentilíssimo senhor: Ontem à tarde ao sair de sua casa devo ter esquecido na mesa da sala de jantar um certo veneno para os ratos. Não é tanto pelo valor da coisa em si (são poucos escudos), mas porque tenho necessidade dele por motivos que não posso explicar por escrito, e que lhe contarei a viva voz. Ficaria muito agradecido se me mandasse esse veneno por meio da Amélia. É um embrulho de papel amarelo que contém uma quantidade de pó branco. Obrigado e até breve.
Vosso Celestino. (O Conde dobra a carta, ri-se e chama.) Amélia! Amélia! (Toca a campainha.) Amélia! És surda?
AMÉLIA (Entrando) Que pressa! Estava a servir o café nos outros quartos. Eu só tenho duas pernas!
CONDE Cale-se, cale-se, por favor. Veja na sala de jantar sobre a mesa. Deve estar aí um pacote de pó amarelo…
AMÉLIA Ah, sim, açúcar. Já o meti no açucareiro, pois já tinha pouco.
CONDE Qual açúcar? Qual açúcar! Aquilo é veneno, desgraçada! Deite tudo fora!
AMÉLIA (Espantadíssima.) O que eu fiz! O que eu fiz!
CONDE (Preocupado.) Que fizeste tu, por amor de Deus?
AMÉLIA Pus açúcar no café.
CONDE (Mexendo-se na cama.) O quê? No café que me acabas de servir?
AMÉLIA (Mais morta do que viva.) Em todos os cafés. (Desmaia.)
CONDE (Correndo para os outros quartos.) Quietos, todos! Quietos, todos! Não bebam o café.
CONDESSA (Está a beber o café.) Que dizes? Estás louco?
CARLOTA E ALDA Pai, não nos meta medo.
CONDE (Desesperado.) Estamos envenenados! Aquele café… Celestino… Os ratos… Essa ignorante da Amélia…
CONDESSA Mas pode-se saber o que aconteceu?
CONDE Vejam só! O veneno dos ratos no café. Maldito Celestino, Maldita Amélia.
CONDESSA E FILHAS (Chorando.) Bebemo-lo todo.
CONDE Depressa, um médico… um farmacêutico… um cirurgião… (Agarra-se ao telefone.) Socorro! Socorro! Doutor… Envenenados… Depressa!
CONDESSA Já sinto o efeito do veneno. Vou morrer. (Desmaia.)
CARLOTA Sinto os suores da morte… Soluços horrorosos. (Desmaia.)
ALDA Morro. (Desmaia.)
CONDE (Com as mãos na cabeça.) Oh, pobre família! Mulher! Filhas! Uma família inteira envenenada com veneno dos ratos! Sinto calor no estômago. É o fim! Onde estamos! Adeus, minhas criaturas. (Cai numa poltrona.)
MÉDICO (Entrando com os enfermeiros.) Depressa, uma lavagem gástrica a todos. (Todos a fazer gargarejos.)
PORTEIRO (Entrando.) Dão licença? Estava a porta aberta. Uma carta para o senhor conde.
CONDE (Voltando-se para o doutor.) Doutor, por favor, leia-me a carta. Estou sem forças.
MÉDICO (Lê.) Gentilíssimo Senhor: Não se incomode. Não precisa de me mandar o pacote. Aquele burro do homem da drogaria acaba de me telefonar advertindo-me que ontem se enganou. Em vez de veneno para os ratos, deu-me açúcar. Podeis ficar com o pacote, considerando que é um modesto presente que vos faço, em paga dos muitos favores que vos devo. Não precisais de me agradecer. Vosso aperfeiçoadíssimo Celestino.
TODOS (Ainda a gaguejar, e com um fio de voz.) Bendito… maldito Celestino!

8 comentários: