ANIMAR, do latim
“animare”, significa “dar alma”. Uma pessoa que acorda e fala: “hoje estou
animado!” quer dizer que está cheia de vida, cheia de energia e pronta a fazer
muito movimento.
“Anima” vem do grego
“anemon”, que tanto podia significar “alma” como “movimento”, ou ainda,
“vento”... (anemógrafo, por exemplo, é o nome da máquina que mede a velocidade
dos ventos).
O filósofo Aristóteles
já dizia que esta “anemon” era algo que só os seres vivos tinham dentro de si
mesmos.
Claro, o movimento é o
principal sinal de vida de qualquer ser!
Todos os animais,
inclusive, é claro, nós os humanos, somos muito atraídos por qualquer tipo de
movimento. Mais do que as cores e as formas, o movimento identifica a natureza
VIVA dos seres. Isso explica a enorme atração que sentimos por toda expressão através
de movimentos, como a dança, os esportes, o cinema e a ANIMAÇÃO!!!
ANIMAÇÃO, além de
significar alegria, disposição e energia, sinais positivos para a vida e a
alma, é também o nome pelo qual conhecemos a arte de criar movimentos através
de uma ilusão ótica. Através de meios técnicos como o cinema, o vídeo, o
computador ou até mesmo com aparelhos simples e engenhosos, é possível criar esta
ilusão e inventar novas formas de VIDA, ou seja, movimentos que nem sempre precisam
corresponder à realidade que conhecemos.
ANIMAÇÃO é a arte de
conferir a ilusão de vida, através do movimento, a objetos nanimados.
2.
Como se consegue a ilusão de movimento?
A ilusão de movimento que conhecemos como CINEMA é apenas uma das muitas inventadas através da arte da ANIMAÇÃO. Ela foi a primeira a se tornar popular e estabelecer uma linguagem para a nossa expressão através das imagens em movimento.
A invenção do cinema,
que tornou possível a ilusão do movimento através de imagens obtidas do mundo
real (pela fotografia), só aconteceu porque antes alguns artistas e cientistas
já haviam inventado o DESENHO ANIMADO.
Desenhos existem desde
a pré-história, como comprovam as representações de animais feitas em paredes
de cavernas, há milhares de anos (a). Estes desenhos já possuíam a tentativa de
reproduzir não só as formas e as cores, mas também os movimentos. Alguns dos
animais representados nestas pinturas têm várias pernas, como se elas
estivessem se mexendo.
Esta tentativa se
repete ao longo de toda a história da arte, como por exemplo:
- Os vasos gregos que
mostravam as etapas dos movimentos dos atletas.
- Os hieróglifos com
sequências de atividades humanas.
- E as telas de grandes
pintores, que sabiam capturar as poses que melhor sugeriam os movimentos de
seus personagens .
Mas o desenho animado,
como o conhecemos hoje, se baseia em uma ilusão ótica descoberta e explorada a
partir do século XIX para criar movimentos que não existem na realidade. A essência
desta ilusão continua sendo controversa!
Durante muito tempo,
foi atribuída a um “defeito” de nosso sistema perceptivo, chamado
de “persistência
retiniana”. Hoje em dia, com o avanço dos estudos neurológicos e da psicologia,
os cientistas descrevem o “efeito phi”, que segundo eles nada teria que ver a
famosa “persistência”.
Como ainda não se
estabeleceu um consenso, tentaremos explicar as duas teorias concorrentes, que
a nosso ver ainda podem muito bem um dia chegar a se encontrar...
Joseph PLATEAU (80-88),
um matemático e fisiologista belga, foi quem formulou a teoria da persistência retiniana,
após várias experiências empíricas.
Para chegar a suas
conclusões, Plateau estudou e descreveu o sistema visual humano, que podemos hoje
comparar a uma câmera fotográfica:
Dentro de nosso globo
ocular, temos a córnea e o cristalino, que funcionam como lentes.
Revestindo o fundo do
olho, está um sistema de células nervosas que pode ser comparado a um filme fotográfico:
é a retina. É ela quem transforma a energia luminosa em estímulos nervosos que
são enviados ao nosso cérebro.
Plateau concluiu que
nossa retina tem uma particularidade: ela retém a luz que capta através do
globo ocular por uma fração de segundo (aproximadamente /0 de segundo), antes de receber o próximo
sinal luminoso emitido pelo ambiente ao nosso redor. Graças a esta
característica, descobriu-se uma forma de “enganar” o nosso cérebro: todo
movimento mais rápido do que esta fração de segundo seria imperceptível para
nós.
Os mágicos e ilusionistas sempre se aproveitaram deste “defeito” para ganhar sua vida; manipulando rápida e habilmente cartas, lenços e coelhos, nos fazem crer que realizaram “mágica”. Nossos olhos não são capazes de notar as substituições. Dedos rápidos são o segredo: daí o nome “presti (rápido) digitador”. Da mesma forma, substituições muito rápidas de imagens são o truque da animação.
Desta maneira, se
encontrarmos um jeito de substituir uma ou mais imagens diante de nossos olhos
a uma velocidade maior do que aproximadamente um décimo de segundo, nosso sistema
fundirá as imagens em uma só. Se as imagens tiverem suficiente coerência entre
si, acreditaremos que se trata de uma única imagem em transformação ou... em
movimento.
É aí que podemos abrir
um parênteses para tentar explicar a nova teoria: o efeito phi. Segundo
psicólogos e neurologistas atuais, seria este efeito, e não a persistência
retiniana, o que causaria a nossa percepção da sucessão destas imagens como um
movimento.
Graças ao efeito phi, o nosso cérebro automaticamente interpretaria
as mudanças de forma ou posição, em duas ou mais imagens rapidamente
alternadas, como sinais de movimento, devido à forma como os campos receptores
das células da retina e das várias áreas do nosso córtex visual integram a informação
visual para detectar movimentos e determinar sua direção. O efeito phi estaria conosco desde a fase animal de
nossa espécie, quando detectar e interpretar a direção de movimentos das presas
era essencial para a sobrevivência e segurança de animais nômades e caçadores.
Segundo esta teoria,
não importaria tanto a velocidade de substituição das imagens: com bem menos do
que 10 imagens por segundo, a impressão de movimento pode ser conseguida. O
exemplo fornecido para ilustrar esta teoria são aqueles painéis eletrônicos
feitos de micro-lâmpadas que se acendem e apagam, dando a impressão de movimento
de letras e símbolos compostas por elas. A impressão causada por estes painéis
não dependeria de uma possível “persistência retiniana” semelhante à do cinema,
mas de uma mudança súbita de posição das lâmpadas acesas, interpretadas como um
deslocamento pelo nosso cérebro.
É verdade;
interpretamos este tipo de ilusão como animação, assim como aceitamos como
animação alguns desenhos animados muito econômicos, filmados com poucos
desenhos para cada segundo. Mas a verdadeira ilusão de movimento, fisiológica e
quase impossível de refutar (e não somente uma aceitação psicológica) sempre
acontece com taxas maiores do que 10 imagens por segundo, como comprovou o
velho Plateau.
Mas enquanto não se
resolve esta questão, até por uma razão sentimental, voltemos a Plateau e sua
tradicional teoria, para vermos como ele a colocou em prática com ótimos resultados.
Como, além de cientista, Plateau gostava de desenhar, para comprovar sua teoria
ele resolveu inventar a primeira máquina de desenho animado: o
fenaquistoscópio.
O princípio essencial
do fenaquistoscópio é o mesmo de todas as ilusões de movimento que hoje
conhecemos, independente da polêmica sobre que mecanismo físico ou psicológico
o provoca:
- Uma sucessão de
imagens fixas, rapidamente substituídas diante de nossos olhos a uma velocidade
constante superior a um décimo de segundo por imagem. É muito importante
entender isso: a ilusão de movimento acontece a partir de imagens FIXAS. De
alguma forma, as imagens precisam ser estabilizadas na frente de nossos olhos por
um tempo mínimo suficiente para que as registremos. E, também, estas imagens
têm que estar fixas de forma coerente, em algum tipo de REGISTRO que dê uma
referência fixa e constante para a ilusão de movimento. Sem isso, a animação
não acontece ou sua qualidade é prejudicada.
Texto retirado da cartilha Anima Escola. Para ler a cartilha integralmente, clique aqui.
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